Pensei em escrever, assim sem
preocupar-me muito com a escolha do gênero, o estilo, apenas a prosa para me
acompanhar. Escrever livre e esperar que os sentimentos saltem de suas gaiolas e
voem livres no papel. Pássaros pequenos e frágeis, às vezes, os guardamos a
sete chaves e nem nos damos conta de que estão loucos para saírem por aí, tocar
outros corações, adentrar outras almas...
Há ocasiões em que me sinto
triste, como agora, e pergunto-me por que, se tenho tanto. A família que
sonhei, os amigos prestativos e preocupados, irmãos tão carinhosos que chego
questionar-me se é justo esse sentimento. Há situações na vida da gente em que
(socialmente) não é permitido estar triste, uma delas, por exemplo, é quando
chega o filho tão sonhado. Parece que ser feliz, nesta ocasião, é praticamente
obrigatório. E quase sempre a chegada do bebê não vem só acompanhada da tão
sonhada felicidade, pois, não raro as mamães têm dias de tristeza também, por
várias razões, dentre elas, as mudanças no corpo, as noites sem dormir. Ainda
em adaptação é comum esse sentimento, que não deve se prolongar por muito
tempo, é claro, senão vira depressão pós-parto, que tem cura e se detectada no
início melhor ainda. Por isso hoje estou me perguntando se esse sentimento
deveria realmente ter se instalado, é uma cobrança que me faço. Tem uma voz
dentro de mim que grita “você tem que estar feliz". Mas, no momento, não é
o que sinto
Essa é a eterna contradição humana sentir-se triste quando deveria estar
alegre. Sei que não estou sozinha em minhas reflexões e pensamentos. Sei que
não apenas eu sinto-me assim. Essa sensação de culpa por estar triste quando na
verdade não deveria. Mas também sei que
é passageiro. Sei que o tempo, esse eterno organizador das coisas - é só ele
coloca as coisas em seus devidos lugares - fará com que tudo volte ao normal. E
aí aquela nuvenzinha cinza sairá dando espaço a muitos sóis. E essa sensação de
estar sozinha quando, na verdade, estou cercada de atenções e zelos não mais
existirá aqui em minha alma.